Hóquei em Patins

16 julho 2025, 10h25

Pedro Henriques

Pedro Henriques

ENTREVISTA

Pedro Henriques conta já com 19 temporadas de águia ao peito, considerando os escalões de formação. A época 2025/26 será a nona consecutiva, no Clube, do guarda-redes e capitão de equipa de hóquei em patins das águias, que, em entrevista à BTV, fez o balanço de uma temporada que não terminou como era desejado, reforçando, porém, a ambição de todo o grupo de trabalho de conquistar títulos.

ÉPOCA 2024/25 COM UM SABOR AMARGO

"A última temporada acabou com um sabor amargo, porque começou com a melhor das expectativas perante a própria equipa, staff, direção, juntamente com os nossos adeptos. Reconheço, do prisma de atleta, que temos um superplantel e que realmente fomos uma superequipa até meados/finais de abril. Se analisarmos o contexto, que estávamos nas melhores posições em todos os quadros competitivos, eu diria que era a melhor performance possível naquela altura. Marcámos presença na final four da Champions com um percurso ímpar, quiçá das melhores campanhas de sempre da Champions, com o melhor ataque e a melhor defesa. Na competição da Taça de Portugal, marcámos presença na final four, com uma vitória de 0-6 em Riba d'Ave, 0-3 em Barcelos, e também naquela altura garantimos o 1.º lugar da fase regular do Campeonato Nacional. Eu diria que realmente era mesmo uma superequipa. Mas depois veio a altura das decisões, que é realmente aquela que importa, e em que mais queríamos estar na melhor forma para conseguir consolidar e conquistar os títulos, e isso não foi possível. Neste contexto, obviamente que também nos referimos à questão de falta de equidade, de justiça. Para os mais desatentos, posso confessar que no último jogo em Barcelos aconteceu-me algo raro, até diria que foi um fenómeno inédito, ter um jogo com oito bolas paradas contra. Nunca me acontecera isto na minha carreira, e foi algo que aconteceu, é factual. Penso que nós sempre tivemos os pés no chão, admitindo que tínhamos uma grande equipa, mas que competíssemos num quadro justo, num quadro equitativo... Tenho a plena consciência de que fomos a equipa mais bonita de se ver perder."

AVALIAÇÃO A NÍVEL INDIVIDUAL

"Eu nunca, ao longo destes anos em toda a minha carreira, individualizei qualquer tipo de registo defensivo, porque atribuo isso a um fenómeno coletivo. Nesta época, é verdade que conseguimos ganhar 9 jogos com 0 golos sofridos, o que é algo que, no hóquei em patins, numa análise final de época, é extremamente difícil de registar. Obviamente que isso não se deve só ao guarda-redes, deve-se a toda a equipa. Nesta época, a nível individual, consegui superar as minhas expectativas, que claramente não são, nem nunca foram, superiores os objetivos coletivos. Portanto, se os objetivos coletivos falham, obviamente que a nível individual há algo que temos de conseguir fazer melhor para ajudar o coletivo."

UMA DAS MELHORES ÉPOCAS DA CARREIRA

"Eu diria que se atentarmos aos números, se tomarmos atenção à performance a nível físico, a nível de estabilidade, até mesmo da disciplina, eu diria que sim, que foi uma das melhores."

Pedro Henriques

"Todos tiveram uma atitude e uma disponibilidade fantástica ao longo da época. Neste quadro é mais fácil capitanear, ser um colega, ou competir"

Pedro Henriques

CAPITANEAR UM GRUPO FANTÁSTICO

"É importante frisar, dar a conhecer aos nossos adeptos, que neste superplantel, que o é, neste quadro competitivo e neste quadro atual na conjuntura mundial do hóquei em patins, temos os representantes das principais seleções, temos os jogadores que são reconhecidos a nível de qualidade perante todo o meio externo e o meio interno, e são realmente jogadores que trabalharam muito durante a época. Trabalharam árdua e diariamente para querer estar nas decisões. E conseguimos estar nas decisões. Esta é a premissa dos títulos, é estar presente nas finais. E, realmente, conseguimos nesta época estar presentes em todas as final fours, em todos os momentos decisivos. Obviamente que algo de melhor temos de fazer no próximo ano para que consigamos levantar os títulos. Foi uma época um bocado ingrata. Não vou individualizar a nível do Benfica, porque penso que todos os adversários tiveram situações raras e inesperadas de lesões. Quiçá, também derivado do planeamento desportivo do hóquei em patins, sensivelmente uns 50 a 60 jogos por época, algo impensável há 10 anos. Mas nós, por exemplo, tivemos um quadro de lesões e de problemas que não esperávamos, que ninguém espera. Mesmo com a lesão de Pau Bargalló e com a lesão de Roberto Di Benedetto, nesta fase que frisei de abril, a equipa não cedeu. Conseguiu ganhar 8 jogos em 8. Isto para dizer que esta equipa não precisa do jogador A, B ou C, pois é um conjunto de protagonistas e todos têm qualidade, e todos tiveram uma atitude e uma disponibilidade fantásticas ao longo da época. Neste quadro é mais fácil capitanear, ser um colega, ou competir com estes colegas ao lado."

ADAPTAÇÃO DOS NOVOS JOGADORES

"Tivemos um regresso e um ingresso. Nunca é indiferente regressar ou ingressar num contexto que é aquele que é o melhor campeonato do mundo, que é o contexto do hóquei em patins em Portugal. É uma questão de adaptação, mas penso que os jogadores se adaptaram bem, tiveram impacto no início, foram bem recebidos pelo grupo. Houve um ambiente positivo e um ambiente capaz de competir em todos os momentos. Claramente que não se deveu ao ingresso do Pau [Bargalló] ou ao regresso do João [Rodrigues] o insucesso no final."

UMA EQUIPA TÉCNICA COM NOVOS MÉTODOS

"A adaptação foi fácil. Não foi a primeira vez que tivemos um método proveniente da realidade do hóquei espanhol. Estamos perante uma grande equipa técnica, que claramente também necessita, à semelhança de todas as outras que incorporaram o Sport Lisboa e Benfica, de uma adaptação àquilo que é o Clube, à realidade do contexto competitivo português. Mas mesmo essa adaptabilidade nunca se pôs em causa, uma vez que chegámos a abril em todas as frentes e na melhor posição possível. Penso que estão aqui reunidas as condições para conseguirmos sublinhar, para conseguirmos analisar o que de bom fizemos e também identificar aquilo que falta para reforçar-nos ainda melhor para o ano que vem."

MOMENTOS QUE MARCARAM A TEMPORADA

"O primeiro momento penso que foi na final four da Taça de Portugal, o primeiro grande impacto de que realmente nos possamos ter iludido de que éramos capazes de ganhar tudo. Este foi aquele que, penso eu, representou o maior perigo nesta época, que foi começar uma temporada em que quase que éramos obrigados a ganhar tudo. Eu e todos os meus colegas, e todos os que acompanharam o hóquei do Benfica nesta temporada, sabemos que éramos capazes de o fazer, mas também temos de reconhecer e dar mérito aos adversários, que são extremamente competitivos. Eu diria, volto a frisar, que fomos a equipa mais bonita de se ver perder. Na final four da Taça tivemos um choque, num objetivo que cai, um objetivo que não nos permitiu conquistar tudo. Ainda assim, tentámos competir no jogo das meias-finais contra o FC Porto [Champions League]. Disputámos o jogo. Houve momentos em que realmente estivemos melhor, outros nem tanto, mas a resiliência de quando regressaram de lesão os dois atletas, o Pau [Bargalló] e o Roberto [Di Benedetto]... eles tinham uma vontade enorme de regressar, com um perfil de que são realmente um exemplo, de que queriam ajudar, e fizeram de tudo para regressar e poder ajudar a equipa. Se calhar éramos merecedores de podermos levantar uma Champions e um Campeonato, mas não foi possível. Também, obviamente, mais do que qualquer adepto ou do que qualquer outra pessoa, ficámos desiludidos connosco."

Pedro Henriques

PROGRESSÃO DOS JOVENS DA FORMAÇÃO

"Serei sempre um apoiante, um ajudante e um fator positivo para que se faça ingressar qualquer atleta proveniente da formação, porque eu próprio ingressei na equipa sénior quando também estava há cinco anos na formação. Estamos perante uma geração fantástica de jogadores portugueses. O Benfica, por aquilo que fez nesta época na formação, tem talento e tem diversas soluções, e penso que é uma mais-valia para o Clube, para a equipa sénior, o ingresso de jovens portugueses que, num panorama geral, apresentam todos um perfil fantástico, qualidades ímpares. Neste ano o Zé Miranda, o Martim Costa e o Viti vieram ajudar em vários momentos da época. O Zé [Miranda] dispensa apresentações. Quando digo que não é necessário haver protagonistas numa equipa com um superplantel é precisamente por isto, é que um miúdo de 20 anos consegue também ser, em algum momento, o protagonista e consegue ajudar. Haverá sempre um ambiente recetivo aos jovens da formação do Benfica."

AUSÊNCIA NA CONVOCATÓRIA PARA O EUROPEU

"O tema da Seleção é algo que não é novo. Tenho 34 anos. Ao longo da minha carreira fui a vários Mundiais, Europeus, Torneios de Montreux, de forma interrompida. Portanto, eu já passei por este processo várias vezes e tenho de confessar que nunca questionei qualquer convocatória. Sempre respeitei as decisões técnicas dos diversos selecionadores, mas esta tenho de questionar. Sou obrigado a isso. Paira no ar um conjunto de ideias de que o Pedro Henriques rejeitou ir à Seleção, mas é falso. Nunca, em contexto algum, formal ou informalmente, manifestei a intenção de não ir à Seleção. Até pelo contrário, no início desta época eu defini, juntamente com o Benfica, em cima da mesa, o objetivo pessoal de querer representar a Seleção e de ir ao Europeu em 2025. Portanto, trabalhei diariamente, arduamente, e acho que no final da época seria natural, justo, compreensível a minha presença. No entanto, também paira no ar a ideia de que o Pedro Henriques não ia à Seleção se não fosse titular, o que também é falso. Nunca, na minha carreira, impus condições ou termos relacionados com titularidades, ou com minutos de jogo, porque foram esses os valores que aprendi nesta casa, desde muito jovem. Portanto, é completamente falso. E, nomeadamente, quem considera possíveis atritos pessoais entre o selecionador e o atleta, também é importante frisar que o treinador Paulo Freitas nunca treinou o atleta Pedro Henriques. Portanto, aqui, o ex-treinador do Sporting e, alegadamente, o futuro treinador do FC Porto competiu, sim, muitas vezes contra o Pedro Henriques. Não creio, de forma alguma, não posso nunca acreditar, que este contexto clubístico do passado e do futuro possa ter contribuído para a formalização desta convocatória. Não faz qualquer sentido."

APOIAR A SELEÇÃO NACIONAL DE FORA

"Não será difícil. Volto a dizer que já tive alguns anos em que não fui convocado. A minha postura foi sempre a mesma, de apoiar a seleção. Tenho de reconhecer que tanto o Xano Edo como o Guga Bento são guarda-redes de elevada qualidade. Tenho a certeza de que farão parte, durante muitos anos, durante a próxima geração, da elite dos guarda-redes portugueses de hóquei em patins. Desejo profundamente que estejam a um grande nível e que ajudem Portugal a ser campeão europeu."

Pedro Henriques

"A única certeza que tenho é de que ninguém tem mais vontade de ganhar do que nós. O Benfica merece ter mais Ligas dos Campeões, merece ter mais Campeonatos Nacionais"

CONTI ACEVEDO AUMENTA VALOR DA EQUIPA

"O Conti [Acevedo] vem agregar valor à equipa do Benfica. É uma certeza que eu tenho de que ele vem agregar ainda mais valor a este superplantel. Teve um nível estratosférico nos últimos anos. Tem uma qualidade reconhecida por todos. Tenho a certeza de que vem agregar valor à baliza do Benfica. Mas também seria importante deixar esta mensagem para os adeptos benfiquistas e não só, pois fui abordado por diversas pessoas e com diversas preocupações nas últimas semanas. Era importante deixar isto claro, que a baliza do Benfica não era, e nunca foi, exclusiva do Pedro Henriques. A baliza do Benfica é, sim, exclusiva a quem tiver melhor competência e perfil para a representar. Portanto, o Conti [Acevedo] será sempre bem-vindo a este grupo. Espero que se enquadre rapidamente, que se adapte, e será com gosto que irei trabalhar com ele."

UMA COMPETIÇÃO SAUDÁVEL PELA BALIZA

"Um nível alto no dia a dia. Uma competição saudável. Uma amizade que possa surgir daqui para a frente. E, acima de tudo, que no final sejam dois guarda-redes a levantar os troféus que ambos queremos."

OBJETIVOS ELEVADOS PARA A NOVA ÉPOCA

"Eu diria, com toda a clareza e com toda a consciência, que os objetivos são conquistar tudo, reconhecendo as dificuldades do ambiente em que nos enquadramos. E também reconhecendo, obviamente, a qualidade dos adversários, a dificuldade que é. O Benfica, em quase 110 anos de história de hóquei em patins, ininterruptos, nunca conseguiu conquistar tudo. A ambição tem de existir, mas a consciência também. E apelar aos nossos adeptos que nos apoiem, como nos apoiaram neste ano. Se possível, mais ainda, porque a única certeza que tenho é de que ninguém tem mais vontade de ganhar do que nós. O Benfica merece ter mais Ligas dos Campeões, merece ter mais Campeonatos Nacionais. Este projeto merece ser vencedor."

Texto: Redação
Fotos: Isabel Cutileiro / SL Benfica
Última atualização: 16 de julho de 2025

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