"Nunca nos cansamos de ganhar"

É sempre a somar. Paulo Almeida, como treinador do Benfica, da espantosa equipa feminina de hóquei em patins, já leva 49 títulos conquistados. E, assim que conquistou, recentemente, o Campeonato Nacional, o último de todos esses títulos já arrebatados, Paulo Almeida festejou, durante breves minutos e, logo a seguir, pôs-se a pensar no título seguinte. Que será uma marca redonda.

Como sempre acontece, encontrei – no Protagonista, da BTV – o mesmo Paulo Almeida vibrante, apaixonado e com uma humildade intocável. E é assim que todos, no Benfica, o reconhecem. Seja quem for, recebe sempre de Paulo Almeida um aceno, um cumprimento, uma simpatia. E é isso, também, que faz do treinador do Benfica alguém que se confunde com o próprio Clube.

São raros os exemplos de desportistas que conseguem obter esse estatuto que vai para lá do seu merecimento e se estende a uma forma familiar de se relacionar com o Benfica e com os Benfiquistas. Quando alguém o reconhece e diz "É o Paulo Almeida", não está apenas a dizer o óbvio. Está a homenagear um dos mais eternos símbolos da mística Benfiquista.

VENHA O PRÓXIMO

"Se já tenho o próximo título na agenda? Assim que terminou o jogo do Campeonato, eu disse à BTV que já estava a pensar no próximo título. Estou nos primeiros dias de férias, mas já a pensar no plantel da próxima temporada e em como vamos ganhar os títulos que vamos disputar. Este é o nosso lema, o nosso dia a dia. Quando cheguei a este clube, ainda menino, uma das primeiras coisas me disseram foi: 'Puto, aqui, o único resultado que interessa é a vitória, é ganhar.' E bastava ter ouvido as nossas jogadoras, depois de ganhar a Taça de Portugal e o Campeonato. Querem mais, querem sempre mais. Esta equipa não quer parar de ganhar, estas jogadoras são insaciáveis, e essa cultura ajuda muito quem chega de novo, porque as novas jogadoras são logo envolvidas por esta cultura de vitória. Ganhámos o 12.º Campeonato seguido, e no momento seguinte já estamos a pensar que queremos o 13.º. Não há outra forma de jogar e de sentir o Benfica."

O SEGUNDO É O PRIMEIRO DOS ÚLTIMOS

"É o meu lema e o que passo para as minhas jogadoras. Cada jogadora nova que chega ao Clube, a primeira conversa que tenho com ela passa por aí. Explicar-lhe o que é o Benfica, a sua grandeza e a exigência do Clube. Elas sabem que, jogando no Benfica, vão estar sempre a ser cobradas pelo treinador. Sou muito amigo delas, preocupo-me com as jogadoras fora da pista, estou sempre interessado em saber coisas das suas vidas, saber como posso ajudar, como posso melhorar as suas vidas, mas, na pista, todas sabem que existe algo que está acima das nossas relações pessoais. É o Benfica, a sua cultura, a sua exigência. E o que sinto das jogadoras é que se sentem muito confortáveis com essa relação que tenho com elas, de muita exigência na pista, e de amizade fora dela. Mas sempre reconhecendo que o segundo lugar é o primeiro dos últimos."

O BENFICA POR DENTRO

"Quando contratamos uma jogadora, gosto sempre de fazer uma videochamada, primeiro, com essa jogadora. Quebrar barreiras e sobretudo explicar-lhe o que é o Benfica. É algo que acho que é muito importante, dar contexto à jogadora. Neste ano [desportivo], quando contratámos a Aimée [Blackman], uma jogadora espanhola que veio do Palau, que ganhou a Champions, fiz essa videochamada e expliquei-lhe o que era o Benfica. E disse-lhe que se tratava de um dos melhores clubes do mundo, o que ela já sabia, mas também lhe disse que uma coisa é conhecermos o Benfica de fora, e outra coisa é vivenciar o Benfica, a sua grandeza, a sua estrutura física e humana. Disse-lhe isso. Poucos meses depois, ela lembrou-se dessa conversa e disse-me que o Benfica era tudo aquilo que eu lhe tinha dito e muito mais. Ela tem familiares, amigos, e passa-lhes essa experiência de jogar num dos maiores clubes do mundo. As jogadoras sentem isso, sentem essa grandeza que não se consegue explicar por palavras. É preciso sentir, e elas sentem. Até jogadoras que atuaram noutros clubes em Portugal, rivais do nosso, reconhecem isso, que o Benfica ainda consegue ser maior do que imaginavam."

MISTURA DE GÉNIO COM FISICALIDADE

"Em Espanha, as equipas e a liga são mais competitivas, porque as melhores equipas contratam jogadoras portuguesas e argentinas, para as juntar às jogadoras espanholas, que têm um perfil mais atlético. É isso que estamos a tentar fazer com o nosso plantel, foi por isso que trouxemos a Aimée [Blackman], uma jogadora que tem uma energia, uma fisicalidade que combina bem com as nossas jogadoras, que são mais criativas. Mas, quando ela chegou, eu disse-lhe que o hóquei, em Portugal, é diferente, é mais criativo, é mais estético. Em Espanha, é mais tático. E essas coisas levam o seu tempo, para a jogadora. E há outros detalhes a que temos de estar mais atentos. Um dia, nas primeiras semanas da temporada, ela disse-me que no Palau jogava oito minutos e descansava, e eu disse-lhe que no Benfica ela tinha de estar disponível para jogar oito minutos, vinte minutos ou até nem jogar, que isso seria uma decisão minha. Mas percebi que ela precisava de fazer um trabalho de cárdio, e isso foi feito com a nossa estrutura. Hoje, está em campo o tempo que for necessário, porque já tem a resistência de que necessitava. É uma grande jogadora, que nos tem ajudado muito, e ainda tem 19 anos. Vai evoluir em certos aspetos do jogo e tornar-se ainda melhor, no futuro. Vai ser operada à mão, por estes dias, porque no primeiro jogo da final sentiu-se injustiçada pelo cartão vermelho que lhe foi mostrado e deu um murro num painel. Mas a Aimée é assim, uma jogadora que tem uma garra incrível e que é muito competitiva, e o Benfica precisa de jogadoras também com esse perfil."

VENCER A LIGA DOS CAMPEÕES

"Tem sido a nossa pedra no sapato, e estamos a trabalhar, todos os anos, para tornar possível esse sonho de voltar a ganhar a competição. Olhamos para os vencedores da competição, e estão lá as equipas espanholas e o Benfica. Assim como, quase todos os anos, na final four da competição estão as melhores equipas espanholas e o Benfica. Ou seja, já todos reconhecem que o Benfica é uma das melhores equipas europeias. Falta-nos ser a melhor. Mas todos os anos sinto que estamos mais perto. Fazemos o nosso trabalho, o Benfica dando-nos tudo para que seja possível ganhar, e nós evoluindo e tornando o plantel ainda mais forte. Mas, mesmo reconhecendo que as equipas espanholas disputam um campeonato mais competitivo e que as suas jogadoras são mais atléticas, acho que o processo é mental. Está na cabeça das jogadoras perceber que podem ser campeãs europeias. E vão sê-lo. Nesta época, no jogo que disputámos em Gijón, empatámos e podíamos ter vencido. Na final four, perdemos com a campeã europeia, mas por detalhes, levámos a discussão do jogo até aos minutos finais. É uma competição que queremos muito ganhar."

GANHAR ATÉ PERDER

"Eu sei que quanto mais ganhamos, mais perto estaremos, um dia, de perdermos. Não há equipas que ganhem para sempre. Mas também sei que, se depender de nós, isso vai acontecer o mais tarde possível. As jogadoras continuam com a mesma sede de vitórias, estamos atentos, vamos renovando o plantel, algumas jogadoras vão sair, devido às suas vidas pessoais e profissionais, outras vão entrar, e acredito que vamos ficar ainda mais fortes. Ninguém, no Benfica e nesta equipa, baixa a guarda. Temos os títulos internos para disputar e ganhar e temos a Liga dos Campeões, na qual voltaremos a estar com o objetivo de a vencer. Motivação nunca faltou a esta equipa e não vai faltar. Continuar a ganhar, continuar a representar o Benfica da única forma que sabemos, é o que posso prometer aos sócios e adeptos do nosso Clube."