"É uma história muito bonita que não vou esquecer"

Rita Campos coloca um ponto final num glorioso percurso de 4 temporadas com o Manto Sagrado, despedindo-se da equipa feminina de andebol do Benfica com um brilhante pecúlio de 4 Campeonatos Nacionais, 3 Taças de Portugal, 2 Supertaças e 1 Taça Federação.

Expressando que a sua passagem pela Luz "foi algo com um sabor muito próprio", a pivô refletiu sobre o seu contributo para o lançamento da hegemonia das águias e recordou a sua mais estimada memória de águia ao peito.

No momento do adeus, assinalado com uma entrevista à BTV, a atleta agradeceu à sua "muito especial" equipa – à qual deixou votos de um "futuro brilhante" –, bem como aos Benfiquistas – que "não têm a noção do apoio que transmitem às equipas" – e a todo o Clube.

"É muito difícil deixar, mas espero que um dia possa voltar aqui e ganhar muitos mais Campeonatos e Taças", almejou Rita Campos, que parte em busca de "um campeonato mais competitivo".

4 ÉPOCAS SIGNIFICANTES

"Posso dizer que foi algo com um sabor muito próprio. Para mim, foi uma coisa muito especial, porque sempre fui Benfiquista, e realmente estar dentro do estabelecimento com o próprio nome, vestir a sua camisola e estar rodeada de pessoas que amam e sentem o mesmo sentimento por este grande clube... Termos vencido e atingido aquilo que atingimos até hoje – Taças, Campeonatos –, para mim, foi muito especial. Mesmo as pessoas com quem partilhei, foi muito significante para mim, nestas 4 épocas. Fez-me crescer e aprender muito, todos os treinos, jogos e competições realizadas aqui."

PAPEL NA HEGEMONIA ENCARNADA

"Uma coisa é certa, quando veio o treinador [João Alexandre Florêncio], quando eu também entrei, foi criada uma base. Também tinham subido de divisão, portanto tínhamos de começar a criar uma equipa em conjunto, e o facto de estar desde essa altura também me deu possibilidades de criar mais contactos e mais relações com as minhas colegas e com o próprio staff. Creio que sou uma pessoa extrovertida, e gosto de me meter com as pessoas, que o ambiente à volta seja positivo, para que as coisas, no fim, acabem por correr bem. Portanto, é um bocadinho por aí, não só desportivamente, mas também emocionalmente. Essas ligações são bastante importantes para o desporto coletivo, mas parte um bocadinho de todos. Se não estivermos todos na mesma página, acaba por não fazer muita diferença."

MELHOR RECORDAÇÃO DE ÁGUIA AO PEITO

"Honestamente, no Benfica, são todos momentos incríveis, mas, de facto, o que não me sai da memória, o que nunca irei esquecer, é o primeiro Campeonato que ganhei, porque foi especial para mim. Foi o primeiro na minha vida, foi o primeiro com a camisola do Benfica, e não foi jogado no Benfica, mas foi jogado no pavilhão onde eu comecei a jogar andebol. Portanto, aí deu-me um sentido de vida diferente, de saber que as pessoas também têm um sentimento especial por mim. Estavam rodeadas nesse momento, estavam no pavilhão presentes, e poder realizar isso com a equipa, de sermos Campeãs Nacionais ao fim de um ano de tanto trabalho, e que realmente foi duro a nível de lesões e tudo, foi uma felicidade imensa."

GRUPO ESPECIAL

"Tenho a dizer que a minha equipa é muito especial. São pessoas com as quais conseguimos partilhar as nossas histórias, rir delas, e, quando é menos bom, conseguimos sempre apoiar-nos, agarrar-nos. Isso é algo extraordinário para uma equipa, porque faz levar a outro nível. Pode não parecer, mas esse tipo de coisas pequenas faz que a equipa, dentro de campo, se eleve. De facto, toda esta ligação e as relações que foram feitas foram levar tudo ao mesmo final, portanto, é uma história muito bonita que não vou esquecer."

MENSAGEM PARA A EQUIPA

"Quero agradecer a todas por todos os momentos que vivemos. Para mim, é muito difícil deixar a equipa, mas, de facto, sabemos o que valemos e o que podemos alcançar. Espero que vos encontre no futuro, que consigam chegar longe nas competições europeias, aquele pedacinho que nos falta. Que corra tudo bem a todas e a todos, e que tenham um futuro brilhante."

DESPEDIDA DURA

"Mais para o final, acabei por sentir mais na pele. Mesmo poder ver os jogos das outras modalidades, as grandes finais, pavilhões cheios, adeptos ao rubro... aí senti mais, custou-me mais jogar aqui o meu último jogo, cantar a última vez o hino. Sou uma pessoa muito emotiva, portanto, obviamente que as lágrimas me vieram aos olhos várias vezes. É muito difícil deixar, mas espero que um dia possa voltar aqui e ganhar muitos mais Campeonatos e Taças."

APELO AOS BENFIQUISTAS

"Os Benfiquistas são pessoas como nós, vivem como nós, portanto é tudo a trabalhar para um só, como diz o lema. Aos Benfiquistas, peço só, simplesmente, que não deixem de vir ver, mesmo que as coisas não estejam numa fase melhor. Não deixem o grupo, não deixem os atletas. Os atletas são pessoas, como todos. Acho que não têm a noção do apoio que transmitem às equipas, a valorização que dá. É só isso que peço, nunca deixem de vir aos pavilhões, nunca deixem de assistir ao desporto feminino, e também não deixem o masculino, obviamente."

AGRADECIMENTO A TODO O CLUBE

"A todos mesmo. À minha equipa principalmente, ao staff, a todos os elementos que me ajudaram a recuperar destas lesões. Mesmo às outras equipas, com as quais fomos podendo partilhar alguns momentos dentro e fora de campo, e desejo a todos o melhor. Mas, de facto, acho que os adeptos são o essencial, porque nos dão aquela força para continuar, portanto, é só agradecer."

VOAR PARA UM CONTEXTO MAIS COMPETITIVO

"Já voei até chegar aqui, mas, de facto, infelizmente, o nosso Campeonato não nos permite chegar desportivamente, se calhar, aonde desejaríamos. E, apesar de o Benfica nos dar todas as condições possíveis e imaginárias para o fazermos, nós não jogamos sozinhas. Portanto, os nossos adversários são muito importantes para que a nossa competição evolua, e, infelizmente, quem procura mais desportivamente, procura algo diferente, que dê um bocadinho mais. Obviamente, estar aqui com as minhas colegas de um nível excelente – que podem também disputar competições altíssimas –, e tudo o que o Benfica fez por nós é incansável, mas, de facto, se a competição não estiver ao nível em que nós, Benfica, também estamos – e poderemos estar, assim como mostrámos nas competições europeias –, torna-se mais difícil. E, depois de ter conquistado tantos troféus e de me sentir minimamente realizada – algo que nunca teria acontecido no meu clube de formação [Juve Lis], pelo menos até ao momento –, acabo por me deslocar então para o país vizinho, procurar um campeonato mais competitivo."